O Instituto do Desporto e os Serviços de Turismo estiveram na linha da frente dos impulsionadores e apoiantes que permitiram trazer a Macau um novo tipo de desporto/aventura, o cada vez mais popular Action Asia. A prova, com um conjunto de modalidades desportivas, mas também jogos de destreza e perícia, trouxe a Macau dezenas de equipas não só da Ásia como de paragens mais distantes: Estados Unidos e Austrália.
E as equipas da casa acabaram por ganhar com galhardia e brilhantismo.
As apostas pendiam para um lado, mas do outro vinha a promessa de uma "luta até ao final". E no fim, não um, mas dois atletas de Macau subiram aos lugares mais altos do podio. Domínio territorial, numa prova onde ser da casa não representa qualquer vantagem, já que o percurso fica longe dos olhares dos participantes até aos instantes que antecedem a partida. Ganharam porque foram os mais fortes, os mais rápidos, os mais audazes: Henrique Galvão fez equipa com Adrian King, e eles foram os brilhantes vencedores. Correram juntos pela primeira vez, e bateram a equipa de Pedro Pinto Ribeiro e Daniel Brown, que conta "apenas" com 5 títulos no curriculum.
Como, onde e porquê, se desenhou este desfecho. Mas as outras histórias do primeiro Action Asia Challenge realizado em Macau, e que deverá passar a prova do calendário oficial anual da competição radical asiática, são explicadas a seguir:
O relógio marcava as sete da manhã, e nas ruelas da Taipa, junto ao Museu do Carmo, os habituais e lânguidos movimentos dos praticantes de Tai Chi "encostavam-se" para dar espaço à agitação e ansiedade dos 286 competidores que alinharam à partida para primeiro Action Asia Challenge por cá realizado.
O que aconteceu logo a seguir foi uma partida coerente com o próprio espírito da competição : desenfreada, e louca.
Ao cabo da primeira rotação, corrida na Taipa de cerca de quilómetro e meio, e da primeira tirada em bicicleta-de-montanha, Taipa-Coloane, já se destacavam apenas cinco equipas. Todos os favoritos, de Macau e de Hong Kong, da Tailândia e de Singapura.
E não foi preciso esperar muito tempo para que a definitiva selecção de valores viesse a ser feita. Na secção de bicicleta-de-todo-o-terreno por entre os trilhos de Coloane, até à praia de Hac-Sá, as equipas com os atletas de Macau distanciaram-se decisiva e definitivamente. Continuaram sempre juntas, até Cheoc Van, altura em que se dá o momento decisivo. Contado na primeira pessoa por Henrique Galvão, a metade macaense da equipa Merrel "Estávamos perto, e a força anímica ia aumentando. Numa escalada em degraus, chegámo-nos ao Pedro e ao Daniel. Passámos por eles com relativa facilidade, e quando olhei para o Pedro, vi que ele estava abatido, e surpreendentemente cabisbaixo. Ainda lhe dirigi duas palavras, mas ele nem teve forças para responder (Pedro Pinto Ribeiro disse mais tarde à nossa reportagem nem se lembrar desse momento "estava entre o siderado e o desideratado").
No regresso de Coloane à Taipa, a equipa Galvão/King conseguiu abrir uma vantagem de cinco minutos, até à transição para os Kyaks, os barcos insufláveis de borracha, a bordo dos quais seria atravessado o canal entre a Taipa e Macau.
Quase um Golpe de Teatro
A vantagem de cinco minutos revelou-se quase providencial.
Um erro de interpretação das regras quase tornou inglório o esforço de mais de 3 horas e meia que a dupla vencedora tinha investido. Ao lerem nas instruções Pass Under the Bridge (passar por baixo da ponte), a equipa Galvão/King julgou estar a receber instruções para remar sempre sob a Ponte Nobre de Carvalho, quando de facto podia ter cortado caminho directamente, e fazer uma diagonal, mais curta, directamente para o lado da margem de Macau, junto à Torre "foi mesmo má interpretação, já cansados, e com a ansiedade da meta à vista. Valeu-nos estarem por perto embarcações de apoio, que nos corrigiram a rota. O resto, foi um pró forma: sobe e desce dez andares da Torre de Macau, e uns quantos exercícios com cordas e rapel".
No final, vantagem de cerca de três minutos e 50 segundos sobre os segundos.
No final, Henrique Galvão era a imagem da satisfação e orgulho "Eu e o Adrian nunca tinhamos feito uma prova juntos. Aliás, este foi o meu primeiro Action Asia, uma vez que a minha especialidade é o Triatlo. Foi o próprio Pedro Pinto Ribeiro que nos pôs em contacto, ao saber que o Adrian andava à procura de um companheiro para a prova de Macau. Fizemos um único treino em conjunto, numa prova em que a coordenação entre os membros da equipa é um factor decisivo. Muito respeito um pelo outro, saber esperar, reconhecer o cansaço um do outro. Penso que essa foi uma parte importante da fórmula para este sucesso "Henrique Galvão quis ainda deixar uma mensagem às autoridades, em particular, e à população, em geral espero que as pessoas aproveitem para dar o verdadeiro valor ao que ainda nos resta em termos ambientais. O que se fez recentemente nos trilhos de Coloane, foi um verdadeiro atentado ao património de Macau. Que se aproveite esta projecção das imagens do nosso pulmão, que é Coloane".